“DO TERRA AO
GAIA!”
APRESENTAÇÃO
“Do TERRA ao GAIA!” foi elaborada em
2012 como dissertação a ser apresentada ao final do Curso de Pós-Graduação de
Mestrado em Memória Social e Bens Culturais da UNILASALLE. Um ano de levantamento
teórico, entrevistas e coleta de material (fotografias, jornais, etc.) a
respeito de dois grupos de dança culminaram em apresentação de dissertação,
edição de um vídeo, e publicação de duas obras. Contudo, um dos objetivos, do
estudo, a produção de um documentário, não teve possibilidades de ser
realizado. No final de 2013 foi reelaborado como projeto “Documentário Do TERRA
ao GAIA” com objetivo de produção de documentário sobre intervenções urbanas de
dança na capital do Rio Grande do Sul através do registro de memória dos Grupos
de Dança TERRA Cia. de Dança do RS e GAIA Dança Contemporânea. O projeto do
documentário foi selecionado para receber o PRÊMIO FUNARTE ARTES NA RUA 2013 em
11 de março de 2014, pela Portaria Nº 46 (publicado no Diário Oficial da União
- DOU 12/03/2014 - Pg. 5
- Seção 1), na modalidade registro e
memória de grupos e suas atividades de arte na rua, com nº de inscrição 793. Elaborado
e realizado pela ArtMobile Cia, Promont Soluções, Cesar Gonçalves Larcen Editor
e Infinite Filmes, para lançamento em 2015.
PORQUE
TERRA E GAIA?
O TERRA levou a dança a lugares não
convencionais, aproximando a dança do público. Deste modo, pode-se afirmar que
o Grupo Terra foi de grande importância para o cenário artístico gaúcho, seja
por ter sido uma das primeiras companhias de dança estruturadas do Estado, bem
como pelas propostas inovadoras, grande atuação e repercussão durante seu
período de existência. O GAIA dá continuidade e intensifica essa aproximação
com o público iniciada pelo TERRA, através dos flashmob dance. Também traz suas próprias inovações, como pesquisas
teóricas desenvolvidas sobre o hibridismo entre dança e novas tecnologias,
tendo como objeto empírico a vídeodança e a dança interativa veiculada através
da web.
Inovação na atuação é característico em
grupos de dança moderna e contemporânea como estes dois grupos, que se
assemelham, não apenas na essência de seus nomes, mas em seus objetivos e
finalidades.
INTERVENÇÕES
URBANAS DE ARTE
A partir da segunda metade do século
XX, os artistas começaram a apropriar-se da possibilidade de intervir no mundo
real e na cultura, irreversivelmente urbanos, levando
sua arte á espaços inusitados, como ruas, praças, etc., diversas iniciativas
artísticas buscaram novas relações sócio-espaciais e consolidaram a ideia de
intervenção urbana. Com objetivos de se aproximar da vida cotidiana, se inserir
no tecido social, abrir novas frentes de atuação e visibilidade para os
trabalhos de arte fora dos espaços consagrados de atuação, tornando a arte mais
acessível ao público, as artes cênicas tomam os espaços urbanos, desmontando de uma vez por todas a ideia de arte baseada no
consenso e possibilitando questionamentos e modificações na noção de público.
Uma intervenção é normalmente
inusitada e geralmente tem um caráter crítico, seja do ponto de vista
ideológico, político ou social, referindo-se a aspectos da vida nos grandes
centros urbanos. Para a Dança não foi diferente. E neste
contexto surgem Balanchine e o balé abstrato, Béjart e o Balé do Século XX,
Cunningham e suas inovações tecnológicas na dança, Graham e sua inovadora
técnica de dança moderna. No Brasil a dança invade as ruas com Marika Gidalli,
em São Paulo, que consagrou a dança contemporânea por meio da
Cia. Ballet Stagium e que entre tantas inovações foi a primeira a utilizar MPB
na trilha sonora e criar espetáculos que podiam ser dançados em qualquer espaço
físico.
Abandonar o espaço físico teatral corresponde a um
desejo de ir ao encontro de um público que geralmente não vai ao espetáculo, de
ter uma ação sociopolítica direta, de aliar lazer, cultura e manifestação
social, de se inserir no urbano entre provocação e convívio. É importante,
entretanto, especificar uma característica da ação teatral quanto a sua
organização. A princípio essa organização se institui a partir de uma relação
determinada entre o palco e a plateia, entre público e o artista. Uma linha
imaginária que separa o espaço da cena e o espaço da plateia. Porém,
atualmente, esta linha imaginária quase desaparece nas intervenções urbanas de
arte cênica. Os trabalhos coreográficos são levados aos espaços públicos com
uma estrutura que permite a participação ativa do público. Ao tomar o espaço
urbano como espaço cênico a arte se apropria da arquitetura da cidade e a
transforma em arquitetura cênica, e neste sentido, “tem função preponderante de
promover a comunhão social, eliminando praticamente a distinção entre palco,
plateia, atores e espectadores”. De um modo geral, os diretores artísticos
da segunda metade do século XX que utilizaram as ruas e outras localizações
urbanas não tradicionais, não desejavam apenas buscar espaços novos para suas
produções. As intervenções urbanas, como invenção dos anos 60, são “filhotes
dos protestos por direitos iguais, das manifestações contra ditaduras e
guerras, do tropicalismo e do rock”. No Brasil, contracenar com o espaço
público tornou-se especialmente decisivo e urgente em 1985, no final da
ditadura militar. Os artistas lançam mão de procedimentos conceituais,
ideológicos e estéticos para atuar com domínio nos espaços públicos, levando
suas lutas políticas, de cidadania e posições contra convenções e rigores.
INTERVENÇÕES
URBANAS EM PORTO ALEGRE
Acompanhando a tendência de
intervenções urbanas nas artes visuais, a “arte pública” tem história em Porto
Alegre. São conquistas, acertos e desacertos, que abrange o
período dos últimos vinte anos, pontuando fatos e ações relevantes para as
conquistas da cidade na Arte Pública. Nas artes
cênicas, já é uma tradição assistir em frente ao Monumento do Expedicionário no
Parque Farroupilha ou no Largo Glênio Peres no centro da cidade, a performances
e apresentações de teatro de rua. Na dança, em Porto Alegre, na década
de 80, a conhecida “Esquina Democrática” era ocupada pelo Grupo Terra sempre
que possível para divulgação da arte e do trabalho coreográfico de seus
integrantes. Na década de 90, os Grupos Phoenix e Baletto levavam suas artes à
parques e praças. Esses são apenas alguns exemplos da área da dança, entre
muitos outros grupos da mesma área ou de outra das artes cênicas, que já
pisaram em espaços públicos para apresentar alguma performance com fins
comemorativos, de homenagem, ou simplesmente, divulgação da arte da dança. Em 2009,
o Grupo Gaia traz um tipo específico de intervenção urbana: o flashmob dance.
FLASHMOB
O uso do termo flashmob
data de aproximadamente 1800, porém não da maneira como o conhecemos hoje. O
termo foi usado para descrever um grupo de prisioneiras da Tasmânia que
revoltadas por volta de 1844 organizaram uma rebelião na qual,
de repente, viraram de costas para o reverendo local, governador e primeira
dama, levantaram as roupas, mostrando as partes íntimas simultaneamente,
fazendo um barulho muito alto com as mãos. Hoje, os “flashmobs” são ações que
mesclam dois espaços distintos entre si, o espaço virtual e o espaço urbano.
Elas iniciam por um processo de comunicação em massa, geralmente através
das redes sociais, onde um líder convida os interessados a se juntarem em
grupo, em um determinado local do espaço urbano e em prol de um só objetivo.
Caracteriza-se por uma performance em grupo, com movimentos pré-coreografados,
e depois do tempo previamente estabelecido, todos se dissipam ao sinal do
líder. Geralmente estas ações seguem um plano, um roteiro com etapas a serem
concretizadas por todo o grupo.
CONCLUSÕES
São 20 anos que separam a criação do
TERRA e do GAIA. Entretanto Inovação na atuação é característico nestes dois
grupos, que se assemelham, não apenas na essência de seus nomes, mas em seus
objetivos e motivações. Apesar de se diferenciarem na criação de suas
intervenções urbanas e no tipo de proximidade com o público, o TERRA e o GAIA
são, sem dúvidas, desbravadores em suas intenções artísticas, precursores na
aproximação com o público e inusitados na utilização dos espaços não
convencionais.
“O interessante é constatar que, apesar
de realizarem trabalhos completamente diferentes, os dois grupos tiveram a
mesma motivação e o mesmo objetivo para irem para as ruas. O motivo principal
foi a falta de espaço tradicional, teatros aptos a receber um espetáculo de
dança, além de serem muito caros. E o que nos parece, é que infelizmente
estamos com o mesmo problema, desde lá nos anos 1980 e ainda hoje em 2014. E o
objetivo destes grupos é a aproximação do público, cada um deles num grau
diferente, mas a aproximação parece fundamental.”
Realização: ArtMobile Cia.
/ Infinite Filmes / Promont Soluções
Apoio: Fundação
Nacional de Artes – FUNARTE, Ministério da Cultura, César Gonçalves Larcen
Editor
Ficha
Técnica: Pesquisa e Projeto: Ana Ligia Trindade, Patrícia Kayser Vargas
Mangan e Nádia Maria Weber Santos / Roteiro
e Direção Executiva: Ana Ligia Trindade, Cesar Gonçalves
Larcen e Nilton Cezar Carvalho / Direção e Montagem: Cristian Derois / Operação
de Câmera e fotografia: Bruna Ferreira / Som direto: Luís Lau e
Flavio Jazz / Produção: Fernanda Iranço
Agradecimentos: Casa de Cultura Mário Quintana, Casa Cultural Tony
Petzhold, Eneida Dreher, Heloisa Peres, Sayonara Rodrigues, Simone Rorato,
Alessandra Chemelo, Daniela Aquino, Diego Mac, Joana Nascimento do Amaral,
Nilton Gaffree, Sandra Santos
Agradecimentos Especiais: Flávia Pilla Valle, Thais Petzhold
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