quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

 “DO TERRA AO GAIA!”


APRESENTAÇÃO
“Do TERRA ao GAIA!” foi elaborada em 2012 como dissertação a ser apresentada ao final do Curso de Pós-Graduação de Mestrado em Memória Social e Bens Culturais da UNILASALLE. Um ano de levantamento teórico, entrevistas e coleta de material (fotografias, jornais, etc.) a respeito de dois grupos de dança culminaram em apresentação de dissertação, edição de um vídeo, e publicação de duas obras. Contudo, um dos objetivos, do estudo, a produção de um documentário, não teve possibilidades de ser realizado. No final de 2013 foi reelaborado como projeto “Documentário Do TERRA ao GAIA” com objetivo de produção de documentário sobre intervenções urbanas de dança na capital do Rio Grande do Sul através do registro de memória dos Grupos de Dança TERRA Cia. de Dança do RS e GAIA Dança Contemporânea. O projeto do documentário foi selecionado para receber o PRÊMIO FUNARTE ARTES NA RUA 2013 em 11 de março de 2014, pela Portaria Nº 46 (publicado no Diário Oficial da União -  DOU 12/03/2014 - Pg. 5 - Seção 1), na modalidade registro e memória de grupos e suas atividades de arte na rua, com nº de inscrição 793. Elaborado e realizado pela ArtMobile Cia, Promont Soluções, Cesar Gonçalves Larcen Editor e Infinite Filmes, para lançamento em 2015.

PORQUE TERRA E GAIA?
O TERRA levou a dança a lugares não convencionais, aproximando a dança do público. Deste modo, pode-se afirmar que o Grupo Terra foi de grande importância para o cenário artístico gaúcho, seja por ter sido uma das primeiras companhias de dança estruturadas do Estado, bem como pelas propostas inovadoras, grande atuação e repercussão durante seu período de existência. O GAIA dá continuidade e intensifica essa aproximação com o público iniciada pelo TERRA, através dos flashmob dance. Também traz suas próprias inovações, como pesquisas teóricas desenvolvidas sobre o hibridismo entre dança e novas tecnologias, tendo como objeto empírico a vídeodança e a dança interativa veiculada através da web.
Inovação na atuação é característico em grupos de dança moderna e contemporânea como estes dois grupos, que se assemelham, não apenas na essência de seus nomes, mas em seus objetivos e finalidades.

INTERVENÇÕES URBANAS DE ARTE
A partir da segunda metade do século XX, os artistas começaram a apropriar-se da possibilidade de intervir no mundo real e na cultura, irreversivelmente urbanos, levando sua arte á espaços inusitados, como ruas, praças, etc., diversas iniciativas artísticas buscaram novas relações sócio-espaciais e consolidaram a ideia de intervenção urbana. Com objetivos de se aproximar da vida cotidiana, se inserir no tecido social, abrir novas frentes de atuação e visibilidade para os trabalhos de arte fora dos espaços consagrados de atuação, tornando a arte mais acessível ao público, as artes cênicas tomam os espaços urbanos, desmontando de uma vez por todas a ideia de arte baseada no consenso e possibilitando questionamentos e modificações na noção de público. Uma intervenção é normalmente inusitada e geralmente tem um caráter crítico, seja do ponto de vista ideológico, político ou social, referindo-se a aspectos da vida nos grandes centros urbanos. Para a Dança não foi diferente. E neste contexto surgem Balanchine e o balé abstrato, Béjart e o Balé do Século XX, Cunningham e suas inovações tecnológicas na dança, Graham e sua inovadora técnica de dança moderna. No Brasil a dança invade as ruas com Marika Gidalli, em São Paulo, que consagrou a dança contemporânea por meio da Cia. Ballet Stagium e que entre tantas inovações foi a primeira a utilizar MPB na trilha sonora e criar espetáculos que podiam ser dançados em qualquer espaço físico.
Abandonar o espaço físico teatral corresponde a um desejo de ir ao encontro de um público que geralmente não vai ao espetáculo, de ter uma ação sociopolítica direta, de aliar lazer, cultura e manifestação social, de se inserir no urbano entre provocação e convívio. É importante, entretanto, especificar uma característica da ação teatral quanto a sua organização. A princípio essa organização se institui a partir de uma relação determinada entre o palco e a plateia, entre público e o artista. Uma linha imaginária que separa o espaço da cena e o espaço da plateia. Porém, atualmente, esta linha imaginária quase desaparece nas intervenções urbanas de arte cênica. Os trabalhos coreográficos são levados aos espaços públicos com uma estrutura que permite a participação ativa do público. Ao tomar o espaço urbano como espaço cênico a arte se apropria da arquitetura da cidade e a transforma em arquitetura cênica, e neste sentido, “tem função preponderante de promover a comunhão social, eliminando praticamente a distinção entre palco, plateia, atores e espectadores”. De um modo geral, os diretores artísticos da segunda metade do século XX que utilizaram as ruas e outras localizações urbanas não tradicionais, não desejavam apenas buscar espaços novos para suas produções. As intervenções urbanas, como invenção dos anos 60, são “filhotes dos protestos por direitos iguais, das manifestações contra ditaduras e guerras, do tropicalismo e do rock”. No Brasil, contracenar com o espaço público tornou-se especialmente decisivo e urgente em 1985, no final da ditadura militar. Os artistas lançam mão de procedimentos conceituais, ideológicos e estéticos para atuar com domínio nos espaços públicos, levando suas lutas políticas, de cidadania e posições contra convenções e rigores.

INTERVENÇÕES URBANAS EM PORTO ALEGRE
Acompanhando a tendência de intervenções urbanas nas artes visuais, a “arte pública” tem história em Porto Alegre. São conquistas, acertos e desacertos, que abrange o período dos últimos vinte anos, pontuando fatos e ações relevantes para as conquistas da cidade na Arte Pública. Nas artes cênicas, já é uma tradição assistir em frente ao Monumento do Expedicionário no Parque Farroupilha ou no Largo Glênio Peres no centro da cidade, a performances e apresentações de teatro de rua. Na dança, em Porto Alegre, na década de 80, a conhecida “Esquina Democrática” era ocupada pelo Grupo Terra sempre que possível para divulgação da arte e do trabalho coreográfico de seus integrantes. Na década de 90, os Grupos Phoenix e Baletto levavam suas artes à parques e praças. Esses são apenas alguns exemplos da área da dança, entre muitos outros grupos da mesma área ou de outra das artes cênicas, que já pisaram em espaços públicos para apresentar alguma performance com fins comemorativos, de homenagem, ou simplesmente, divulgação da arte da dança. Em 2009, o Grupo Gaia traz um tipo específico de intervenção urbana: o flashmob dance.

FLASHMOB
O uso do termo flashmob data de aproximadamente 1800, porém não da maneira como o conhecemos hoje. O termo foi usado para descrever um grupo de prisioneiras da Tasmânia que revoltadas por volta de 1844 organizaram uma rebelião na qual, de repente, viraram de costas para o reverendo local, governador e primeira dama, levantaram as roupas, mostrando as partes íntimas simultaneamente, fazendo um barulho muito alto com as mãos. Hoje, os “flashmobs” são ações que mesclam dois espaços distintos entre si, o espaço virtual e o espaço urbano. Elas iniciam por um processo de comunicação em massa, geralmente através das redes sociais, onde um líder convida os interessados a se juntarem em grupo, em um determinado local do espaço urbano e em prol de um só objetivo. Caracteriza-se por uma performance em grupo, com movimentos pré-coreografados, e depois do tempo previamente estabelecido, todos se dissipam ao sinal do líder. Geralmente estas ações seguem um plano, um roteiro com etapas a serem concretizadas por todo o grupo.

CONCLUSÕES
São 20 anos que separam a criação do TERRA e do GAIA. Entretanto Inovação na atuação é característico nestes dois grupos, que se assemelham, não apenas na essência de seus nomes, mas em seus objetivos e motivações. Apesar de se diferenciarem na criação de suas intervenções urbanas e no tipo de proximidade com o público, o TERRA e o GAIA são, sem dúvidas, desbravadores em suas intenções artísticas, precursores na aproximação com o público e inusitados na utilização dos espaços não convencionais.

“O interessante é constatar que, apesar de realizarem trabalhos completamente diferentes, os dois grupos tiveram a mesma motivação e o mesmo objetivo para irem para as ruas. O motivo principal foi a falta de espaço tradicional, teatros aptos a receber um espetáculo de dança, além de serem muito caros. E o que nos parece, é que infelizmente estamos com o mesmo problema, desde lá nos anos 1980 e ainda hoje em 2014. E o objetivo destes grupos é a aproximação do público, cada um deles num grau diferente, mas a aproximação parece fundamental.”


Realização: ArtMobile Cia. / Infinite Filmes / Promont Soluções
Apoio: Fundação Nacional de Artes – FUNARTE, Ministério da Cultura, César Gonçalves Larcen Editor
Ficha Técnica: Pesquisa e Projeto: Ana Ligia Trindade, Patrícia Kayser Vargas Mangan e Nádia Maria Weber Santos / Roteiro e Direção Executiva: Ana Ligia Trindade, Cesar Gonçalves Larcen e Nilton Cezar Carvalho / Direção e Montagem: Cristian Derois / Operação de Câmera e fotografia: Bruna Ferreira / Som direto: Luís Lau e Flavio Jazz / Produção: Fernanda Iranço
Agradecimentos: Casa de Cultura Mário Quintana, Casa Cultural Tony Petzhold, Eneida Dreher, Heloisa Peres, Sayonara Rodrigues, Simone Rorato, Alessandra Chemelo, Daniela Aquino, Diego Mac, Joana Nascimento do Amaral, Nilton Gaffree, Sandra Santos
Agradecimentos Especiais: Flávia Pilla Valle, Thais Petzhold


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